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Conflito familiar: um denunciante do sofrimento infantojuvenil

  • Foto do escritor: Joseb S. Roque
    Joseb S. Roque
  • 21 de jul. de 2020
  • 9 min de leitura

Atualizado: 9 de mar.



Autor: Joseb Silva Roque*

1 - INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa correlacionar de maneira crítica dois artigos sobre a problemática dos conflitos domésticos e suas influências negativas no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Tendo como objetivo visualizar como diferentes trabalhos com doze anos de intervalo se interligam em seus resultados e investigações.


Essa produção se mostra relevante para discussão acerca de como conflitos dentro dos lares, podem, em suas diferentes manifestações se apresentarem como um fator impactante e muitas vezes decisivo no comprometimento do desenvolvimento do sujeitos em fase infantojuvenil. Também, pode servir para estimular novas pesquisas, debates e até mesmo a criação de métodos intervenção para amenizar o quadro.


Para isso, foram utilizados os seguintes artigos: Conflito Conjugal: Impacto no Desenvolvimento Psicológico da Criança e Adolescente produzido por Silvia Pereira da Cruz Bennetti e Clima Familiar e os problemas emocionais e comportamentais na infância produzido por Joanna Ferreira Leusin, Giovanna Wanderley Petrucci e Juliane Callegaro Borsa.


Devido a similaridade dos temas e sobre tudo dos eixos teóricos que versam em ambos os artigos o desenvolvimento se dará no formato de um resumo dos temas abordados nas obras. Finalizando com uma breve análise dos assuntos trazidos nos trabalhos e uma reflexão sobre a importância dos estudos voltados para os conflitos familiares.

2 - CONTEÚDO DAS OBRAS


Às obras irão ser resumidas a partir da mais antiga para a mais recente. Assim ficará fidedigno a cronologia das publicações. Os principais pontos de cada obra vão ser abordados, durante o texto.


2.1 - CONFLITO CONJUGAL: IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE


Este artigo tem como foco observar as investigações sobre os conflitos entre casais e suas consequências no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Pontuando a historicidade das pesquisas, os diferentes aspectos do conflito familiar, Às relações parentais e os modelos processuais.


2.1.1 - ESTUDOS INICIAIS SOBRE DISCÓRDIA FAMILIAR E O CONFILTO CONJUGAL


A primeira geração de pesquisas acerca dos efeitos causados pelos conflitos conjugais no desenvolvimento psicológico da criança foi importante para sinalizar uma correlação entre dissonância parental e adversidade na família. Os primeiros estudos estavam voltados para o nível de satisfação pessoal dos pais na relação ao casamento e como isso afetava no desenvolvimento dos filhos. Assim, a satisfação/insatisfação conjugal eram ligados ao comportamento infantil e a nível de qualidade de seu desenvolvimento.


Contudo, não se encontrou aspectos específicos que influenciassem o distúrbios infantis, haja vista, que nem todo relacionamento insatisfatório significava mal desenvolvimento da criança, pois nem toda relação com baixo nível de satisfação se relaciona com má qualidade do desenvolvimento infantil.


Posteriormente foram observadas determinadas características, que se apresentavam mais relevantes e até determinantes de aspectos negativos no desenvolvimento psicológico, tais verificações justificam um olhar mais crítico sobre o fenômeno.


A segunda geração de pesquisas objetivava identificar os processos subjacentes aos efeitos gerados pelo conflito familiar, mais precisamente em como as crianças eram afetadas pelos embates domiciliares. Foi verificado que padrões diferentes de conflito tinham impacto, não apenas na relação entre o casal, mas também no desenvolvimento dos filhos e interação familiar. Assim, os estudos saíram de unidimensionais para multidimensionais, analisando os processos familiares que envolvem os conflitos familiares.


Se considera que todo sistema familiar detém um determinado nível de conflito, que podem ser positivos para o desenvolvimento das crianças, ou seja, observar que adultos destoam de certos pontos e mesmo assim conseguem chegar a um denominador comum para resolução do conflito. O primeiro passo para a se destacar na construção multidimensional do conflito conjugal, é identificar quais características exercem poderes disruptivos no desenvolvimento infantil.


Veremos agora às dimensões mais importantes no conflito familiar:

  1. Frequência: a criança estar exposta a constantes episódios de conflitos entre os pais como maneira de relacionamento familiar pode ser um determinante do estresse. A frequência desses episódios pode gerar respostas intensas na criança na forma de ansiedade, depressão, distúrbio de conduta e comportamentos agressivos.

  2. Intensidade: pode ser caracterizado por momentos de disputa calma entre os cônjuges, até quadros que envolvem agressões físicas, verbais e emocionais. Apesar da agressão física claramente influenciar em um desenvolvimento negativo da criança se observa, que agressões emocionais e verbais demonstram efeitos tão negativos quanto os físicos.

  3. Tópico: ou motivo do conflito, também vem sedo correlacionado ao estresse infantil, haja vista, que diversas vezes o tema dos conflitos é a própria criança. Embates são gerados a não concordância quanto a supervisão e manejo, isso provoca como resultado uma grande ansiedade na prole.

  4. Resolução: problemáticas com resoluções satisfatórias podem ser benéficas ao desenvolvimento infantil, pois trazem amadurecimento emocional e cognitivo. Padrões familiares de resolução de problemas conjugais através de agressividade, pode levar a criança a reproduzir esse manejo para o seu convívio social.

  5. Outros aspectos: há uma correlação de gênero e comportamento frente a exposição aos conflitos conjugais. Meninos tendem a apresentar características comportamentais mais agressivas, enquanto as meninas se comportam mais depressivamente.


2.1.2 - CONFLITO CONJUGAL E AS RELAÇÕES PARENTAIS E VIOLÊNCIA FAMILIAR


As características da dinâmica conjugal influenciam de forma direta a disponibilidade física e emocional para com os filhos, ocasionando deterioração nas relações entre pais e filhos. Casais com relações satisfatórias demonstram maior envolvimento com os filhos. Quanto ao contrário, os pais apresentam baixo envolvimento e disponibilidade deles, principalmente visto na figura paterna. Na relação entre mães e filhos ocorre uma tendência de se manterem mais estáveis.


Frente a essas ocorrências e ao alto nível de estresse e alterações fisiológicas e emocionais na criança, ela tende a manifestar um esforço de regular e controlar as relações disfuncionais. Quando ocorre a deteriorização de uma relação conjugal, pode surgir práticas abusivas entre os pares, que podem ser reproduzidas nas crianças. Presenciar os abusos entre os pais e ser vítima dos mesmos tipos de abuso está associado a dano psicológico na criança.


2.1.3 - MODELOS PROCESSUAIS


Devido aos diferentes tipos de fatores que impactam no desenvolvimento infantil, surgiu a necessidade de elaborar e dividir em modelos processuais mais complexos acerca dos fenômenos abordados. Os modelos são:

  1. Modelo cognitivo-contextual: surgi como uma tentativa de explicar e compreender os diferentes determinantes na relação família e criança, tendo em consideração que a interpretação dos conflitos dada pelos filhos interfere no desenvolvimento infantil. O filho pode atribuir a si a culpa pelos conflitos conjugais dos pais, gerando sentimentos de vergonha, baixa autoestima, recriminação, culpa e raiva dirigida a um dos responsáveis ou a ambos. Estratégias de enfrentamento inadequadas levar a criança a uma vulnerabilidade emocional e comprometer seu amadurecimento psíquico.

  2. Modelo segurança-emocional: a experiência de segurança emocional se estabelece a partir das relações de apego com os criadores, onde predomina afeto, compreensão, apoio e suporte emocional. Frente a momentos de discórdia entre a família a criança pode reagir a esse afeto negativo e à ansiedade tentado criar estratégias mediadoras, tanto para si, quanto para os pais. Essa tentativa de apaziguamento pode gerar agressividade, choro e condutas de mal comportamento.


2.1.4 - CONCLUSÃO


Pesquisas sugerem impactos negativos dos conflitos conjugais no desenvolvimento psicológico de crianças e adolescentes, especialmente quando há exposição a violência física e verbal entre os pais. Diferentes padrões de conflito e a frequência e intensidade deles, não refletia apenas no casal, mas influenciavam o comportamento e desenvolvimento infantil.


2.2 - CLIMA FAMILIAR E OS PROBLEMAS EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS NA INFÂNCIA


Esse artigo embora publicado doze anos após o anterior, tem muitos pontos em comum, especialmente em suas abordagens teóricas, mas também trás novos olhares ao tema, além de uma pesquisa que usou o Inventário de Clima Familiar (ICF) e o Child Behavior Checklist (CBCL 618).


O clima familiar se compõe de quatro dimensões: hierarquia e conflito no polo negativo, apoio e coesão no polo positivo. Hierarquia se define como diferença rígida entre o poder e controle nas relações familiares. Conflito é a relação agressiva, conflituosa e crítica entre os membros da família. Apoio é o suporte emocional e material que existe entre os familiares. Coesão se trata do vínculo emocional existente entre os componentes da família.

O clima familiar é um exemplo de processo proximal, dependendo da sua qualidade pode ter resultados de disfunção ou competência.


As competências resultantes desse processo podem ser empatia, competência acadêmica, habilidades sociais, entre outros. Por outro lado, as disfunções podem se manifestar internamente com tristeza, retraimento, ansiedade, depressão, reclamações psicossomáticas e isolamento social. Externamente se manifesta agressividade, oposição, hostilidade, impulsividade, hiperatividade, desobediência as regras e comportamentos deliquentes.


2.2.1 - A PESQUISA


A pesquisa contou com a participação de 237 mães, cuidadores ou pais de meninos e meninas com idades entre 7 e 13 anos, que estavam matriculadas em escolas particulares e públicas de ensino fundamental do Rio de Janeiro. Foi observado a escolaridade dos pais e a renda familiar. Foram aplicados os testes ICF e CBCL 618. Se aplicou correlações bivariadas de Pearson nos quatro fatores do ICF, na busca de pormenorizar os resultados e realizar avaliação do clima familiar e seu impacto nos problemas emocionais e comportamentais da criança.


2.2.2 - DISCUSSÃO E CONCLUSÃO


O fator do conflito familiar apresentou maior correlação com os problemas anteriormente falados. Ha uma elevada relação entre o conflito conjugal e as experiências de bullying e vitimização entre os alunos. O polo negativo apresentou relação positiva com os problemas comportamentais e emocionais das crianças, enquanto o polo positivo mostrou haver uma relação negativa com tais problemas. O conflito familiar se associa à falta de laços positivos entre os integrantes da família, resultando em baixo rendimento escolar, problemas de memória, concentração e hiperatividade.


Crianças que convivem em ambientes familiares, que suprem às suas necessidades emocionais e sociais, tendem a melhor se adaptarem a contextos novos, demonstrando maiores nível de competências sociais e níveis menores de problemas comportamentais. Uma boa coesão familiar predispõe a ocorrência de bem estar psicossocial a toda família, além de desenvolver habilidades sociais e emocionais nas crianças. Famílias coesas são mais funcionais, amenizando a presença de conflitos e outos problemas relacionais.


Investir em relações familiares de maior qualidade pode fazer que os membros tenham a sensação de acolhimento, gerando segurança e felicidade para confrontar as demandas ambientais, permitindo comportamentos mais adaptativos e funcionais. Psicoeducação com foco em preparar os pais em como educar os filhos, ter manejo com as problemáticas intrafamiliares, pode aumentar a qualidade de vida dos integrantes da família, obtendo como resultado, crianças mais bem preparadas para conviver de maneira harmoniosa na sociedade.


3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS


Os artigos versam sobre uma temática delicada e presente na vida familiar de todos, os conflitos conjugais/familiares, que quando não bem trabalhados através de estratégias dos cônjuges pode levar a insatisfação dos mesmos dentro de sua relação. Essa insatisfação pode gerar conflitos com diferentes tipos de manifestação dentro do seio familiar. Quando não bem elaborados e resolvidos eles podem danificar a estrutura intrafamiliar, causando danos psicológicos no casal e em seus filhos.


Os conflitos podem se manifestar de diferentes formas dimensões, que levaram a criação de modelos processuais para melhor compreender essa dinâmica e suas influencias no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Podendo assim se observar os pontos positivos e negativos no convívio familiar e em seus conflitos.


Embora havendo doze anos de diferença entre os artigos eles conseguem se interligarem em seus estudos, o primeiro de cunho teórico se provou fidedigno em sua postulação devido aos resultados obtidos pelo segundo artigo, através da pesquisa realizada com família de alunos do ensino fundamental do Rio de Janeiro.


Podemos observar que a satisfação dos pais dentro da relação os tornam mais presentes para com os filhos, enquanto a insatisfação distancia esse relacionamento. Em ambos os artigo podemos ver uma correlação entre a resolução dos conflitos através de violência são nocivas para os filhos, causando comprometimento cognitivo e atraso no amadurecimento. Diversas problemáticas são descritas neles como resultado dessa exposição como agressividade, depressão, delinquência e outros problemas comportamentais.


Em contra partida os artigos colocam que uma boa dinâmica familiar, estratégias de resolução de conflitos sem agressividade e satisfação dos cônjuges, se liga positivamente a um amadurecimento emocional da criança, ao desenvolvimento de habilidades sociais e melhor adaptação a novos contextos e ao ambiente social.


Esses artigos mostram, que apesar de longos anos de diferença entre si a problemática dos conflitos conjugais ainda é um determinante no mal desenvolvimento infantojuvenil. Devemos nos nortear com estas e outras produções, procurar compreender a origem dos conflitos e criar métodos de intervenção para amenizar esse problema e ajudar a propagar meios psicoeducativos para pais e filhos.


  • Bacharel em Psicologia pela Uninassau-JP, Pós graduado em Projeto e Desenvolvimento de Jogos Digitais pela Universidade Cruzeiro do Sul, Pós graduado em Psicanálise, Docência e Pesquisa para Área da Saúde, Docência do Ensino Superior e Tutoria em Educação à Distância pela Faculdade Dynamus de Campinas, Técnico de Enfermagem pela Escola Técnica de Enfermagem Rosa Mística, Palestrante e Escritor.

  • E-mail: josebroque@icloud.com

  • A reprodução parcial ou total desta produção sem autorização prévia ou créditos é expressamente proibida.


4 - REFERÊNCIAS


BENETTI, S. P. C. Conflito conjugal: impacto no desenvolvimento psicológico da criança e do adolescente. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 19, n. 2, p. 261-268, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722006000200012&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 20 jul 2020.


LEUSIN, J. F.; PETRUCCI, G. W.; BORSA, J. Clima Familiar e os problemas emocionais e comportamentais na infância. Rev. SPAGESP, Ribeirão Preto, v. 19, n. 1, p. 49-61, 2018. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702018000100005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 20 jul 2020.


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